Acesse no final da página ou por este link o trabalho “A ESTÉTICA VISUAL DA PICHAÇÃO
NOS QUADRINHOS E ARQUITETURA“. Abaixo, segue a introdução da pesquisa:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA | CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO | DEPARTAMENTO DE EXPRESSÃO GRÁFICA

A ESTÉTICA VISUAL DA PICHAÇÃO NOS QUADRINHOS E ARQUITETURA
MÁRIO CÉSAR COELHOFlorianópolis – SC | 2018
Introdução

Esta pesquisa teve como objetivo principal promover uma reflexão sobre a linguagem visual das pichações nos quadrinhos, de como interferem na narrativa das obras e quais as características principais desta linguagem. O trabalho tem uma abordagem visual e procura estimular uma discussão temática principalmente nas áreas de conhecimento dos quadrinhos, desenho e arquitetura. Demonstrar que, assim como estão presentes nas ruas, nos muros e na arquitetura, as pichações fazem parte do conteúdo de muitas histórias em quadrinhos, principalmente quando há motivação de definir um caráter transgressor, uma arquitetura marginalizada, ruínas, uma narrativa distópica.

Entre as justificativas deste trabalho estão o fato de que esta prática expressiva contemporânea das cidades tem uma importância social na medida em que é impactante, polêmica e quando discutida publicamente é vista somente em seu aspecto da legalidade. Partimos do pressuposto que a pichação ocorre como manifestação urbana contemporânea, independente das contradições e polêmicas, em diferentes lugares da cidade. Atualmente a pichação aparece conceitualmente em contraposição ao graffiti, aceitável artisticamente, principalmente quando é uma intervenção autorizada.

Aqui está sendo colocado apenas uma outra possibilidade de olhar. Independente do que possa parecer certo ou errado, se não estiver autorizada, a pichação está enquadrada em crime ambiental. Isto não impede que artistas, pesquisadores urbanos olhem para estas manifestações urbanas que acontecem de maneira independente. Não impede de olhar como esta expressão é realizada, onde é realizada e como é utilizada.

Após as leituras na disciplina de Estética na Filosofia em 2017, leituras específicas sobre street art, pesquisa de material iconográfico de artistas com uma linguagem formal aproximada ao graffiti, percebemos uma complexidade maior que a imaginada inicialmente. Vale ressaltar que, apesar de ter assistido alguns documentários e vídeos sobre autores de street art, graffiti, pichação, não houve o intuito, neste trabalho, de pesquisar especificamente grupos atuantes de grafiteiros, técnicas, fontes tipográficas, tipos de tintas e práticas utilizadas. Para quem tiver interesse nestas questões pode consultar, entre outros trabalhos, a tese de Gustavo Lassala chamada Em nome do Pixo: a experiência social e estética do pichador e artista Djan Ivson, publicada pelo Editora Altamira.

Visitar as cidades de São Paulo, Barcelona, Colônia do Sacramento, Angoulême foi fundamental para a compreensão deste estudo. Em São Paulo, participei do Comic Con Experience 2016 e visitei a exposição de Basquiat no Centro Cultural Banco do Brasil. Em Angoulême participei do 44.Festival International de la Bande Dessinée 2017. Em diferentes lugares das cidades as manifestações do que podemos chamar de street art está presente. Em muitos momentos não há divisão entre o que podemos considerar pichação e graffiti, tudo faz parte de uma mesma manifestação visual. Ao mesmo tempo, no aspecto formal, para SILVA (2014, p.131) “um grafite pode ser visto e aceito como arte urbana, colocado numa galeria, passa a ser arte visual, mas na rua é percebido como sua natureza histórica: grafite”.

Procuramos associar na especificidade de suas formas, estas manifestações expressivas na sua materialidade urbana dentro de seus contextos políticos e estéticos, lembrando que o objetivo principal foi relacionar esta linguagem com os desenhos nas histórias em quadrinhos.

Optamos por dividir o tema em duas partes distintas, que podem ser impressas como um caderno temático e lidas separadamente. A primeira parte é “QUADRINHOS: prática e linguagem da pichação”, que aborda basicamente os quadrinhos e sua relação com a pichação, ou seja, sua prática e o estudo desta linguagem urbana principalmente na página impressa. Abordamos a relação do texto com a imagem, a figura do grafiteiro nos quadrinhos e, por fim, as características da pichação e como são representadas nas histórias. Pensamos também a questão da tradução destes textos relacionados com a imagem, uma vez que muitas das pichações são intraduzíveis.

A segunda parte, “DE BANKSY A BASQUIAT: Chegada à cidade; Esta é a parte que não tem fim”, trabalhamos com o que seria uma base conceitual e os pontos de partida deste estudo apontando a diferenciação entre graffiti e pichação.

Alguns acontecimentos foram importantes para pensarmos sobre a temática desta pesquisa: no Simpósio Nacional de História ocorrido em 2016 na UFSC num debate sobre grafites e pichação uma das questões colocadas foi de pensar as pichações fazendo parte do espaço urbano. Ter ganho de presente de um amigo o primeiro volume dos quadrinhos DMZ, On the ground, iniciou uma aventura visual que me fez ler o resto da coleção. Outro ponto de partida foram exercícios propostos para uma aula de francês e de inglês sobre um tema contemporâneo, a street art. Em francês o contato com a obra de Ernest Pignon-Ernest, Les expulsés, de 2013 e em inglês a obra de Banksy. As intervenções de Banksy têm um grande impacto na mídia e, consequentemente, no mercado de artes, por ser atualmente muito valorizado. Ele já chegou a ter as paredes com as suas intervenções retirados de seu lugar de origem e levados para as galerias.

A partir dos exercícios escritos com a temática street art, veio à tona a polêmica da intervenção do Grupo ETC da Udesc, com as inscrições “Cidade à venda”, que teve grande visualização e gerou uma polêmica na cidade de Florianópolis. Foi, portanto, necessário abordar lugares existentes para fazer uma aproximação com os quadrinhos. A Rua Victor Meirelles, também chamada a Rua do Victor, com uma série de intervenções nas paredes, foi um dos lugares principais de observação da cidade. Foram fotografados também algumas imagens de graffiti no campus universitário da Trindade.

Num outro contexto, tratamos das aproximações da linguagem entre arte e design a partir de algumas citações sobre a obra de Antoni Tàpies, Juan Miró, Franz Kline, Mira Schendel. Artistas que lidam com uma linguagem muito próxima das expressões escritas nas ruas. Basquiat começou suas intervenções de graffiti nas ruas posteriormente entrando no circuito internacional da arte. Por fim, fizemos uma abordagem que é chamada de pós-moderna por alguns teóricos da história do design. Este é o caso dos trabalhos de David Carson.

Este trabalho foi apresentado numa versão simplificada em eventos acadêmicos: na II Jornada Traduzindo Quadrinhos do PGET – UFSC, na 16. Edição da SEPEX na forma de Oficina, na mesa-redonda no ROTFATHER DAY (24/7) na UFSC, comunicação na IV Jornada Internacional de Histórias em Quadrinhos, realizada na ECA-USP. Também faz parte de uma pesquisa mais geral que venho realizando sobre histórias em quadrinhos relacionado com a espacialidade, o desenho e a narrativa nos quadrinhos, no qual os outros temas são Persistência do figurativo: de Winsor McCay a François Schuiten; Literatura e espacialidade: Machado de Assis e Proust e Composição e Desenho que trata também a questão do uso da perspectiva cônica nos quadrinhos.

Por fim, no livro com obras atribuídas a Banksy há uma advertência que diz: “Este livro contém elementos criativos e artísticos da arte do grafite e não tem a intenção de encorajar ou induzir sua prática em lugares onde ela seja ilegal ou inapropriada.” Seguindo a mesma orientação, ressaltamos que este trabalho, ao estudar esta linguagem urbana, não tem o intuito de incentivar a pichação ou o graffiti onde seja ilegal ou inapropriado.

A estética visual da pichação nos quadrinhos e na arquitetura

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